Numa manhã qualquer, uma mulher se dirige a um
balcão de informações. Lá, um homem aparentemente ocupado, reveza interminavelmente entre o teclado do computador e uma pilha de papéis. Ela o encara por alguns segundos, incapaz de dizer
ou gesticular alguma coisa. Ele finalmente nota sua presença.
- Bom dia. Posso ajudá-la? – Disse sorrindo, simpático. Ou mentindo
muito bem.
Essas palavras soaram como contagem regressiva. Seu coração começou a bater. Ela sentia que algo muito ruim estava para acontecer. Atrás dele,
uma criança saiu correndo de um lado ao outro do cômodo, gritando até lhe
faltar ar:
- O que eu faço?! O que é que eu faço?!
Preocupada, se voltou ao recepcionista. Ele não estava se
mexendo. Estava parado, como se o próprio tempo não passasse pra ele. Como podia? Confusa, a mulher tentou chamar sua atenção. Sem resultado. Ela tremia.
Suava pelas suas
mãos, pelos pés e se segurava pra não suar pelos olhos.
Os olhos.
Ela fechou os olhos. Contou até 10.
1, 2, 3, 5, 6, 8, 7, 8, 9, 10. Abriu os olhos devagar.
Os olhos.
Ela fechou os olhos. Contou até 10.
1, 2, 3, 5, 6, 8, 7, 8, 9, 10. Abriu os olhos devagar.
Em cima da cabeça do recepcionista, havia um homenzinho
dançando ao ritmo Ragatanga, segurando uma plaquinha que dizia: Responda!
Perguntou-se se era possível que alguma coisa que ela havia
comido poderia ter lhe feito mal, e agora estaria vendo coisas. Mas não era isso, e ela sabia. Ela não havia comido nada desde
a noite passada. Devia ser a fome, então. Mesmo sem estar realmente com fome, deveria ser.
Com isso em mente, tentou ignora-lo. A zebra falante começou
a insistir para que ela pulasse algumas vezes, pra ajudar a se acalmar. Até
tentou, mas seus pés estavam grudados, pelo que parecia ser chiclete de tutti
frutti mascado (provavelmente pela zebra).
Ela só precisava se acalmar. Ia
ficar tudo bem. Só precisa se concentrar. Ela sabia o que tinha que fazer.
Ouviram-se tambores. Teria dado um pulo se pudesse. Uma
marcha de carnaval agora entrava pela porta, ao som de Vassourinhas, circulando
pelo balcão em que ela e o recepcionista (ainda imóvel) estavam. A zebra então
passou a acompanhar a marcha, que foi acompanhada pelo homenzinho. Até a
criança que antes corria desesperada se juntou a algazarra.
Ela respirou fundo.
- Bom dia... É... Qual o andar do Dr. Maurício?
- Nono andar. Ultima porta do corredor.
- Obrigado
- Nono andar. Ultima porta do corredor.
- Obrigado
Tudo voltou ao normal.