Crônica

O que faço na madrugada

22:13Claudia M.

 Preferia não sentir. 
   Costumo dizer que esse horário é sobrenatural. Tão sobrenatural que não é noite, nem manhã, nem tarde: é madrugada. São exatamente 01:29 da madrugada.
   Sabe o quanto tenho que me controlar pra não te falar o que não deveria? O quanto me dói, somente de madrugada, lembrar que, da tua vida, eu não faço parte? Deveria ser proibido tamanha falta de reciprocidade.
   O que deixa toda essa coisa mais ridícula, é o fato de eu continuar me enganando. Ao menos, querendo enganar. Não tem como dar certo, se sequer consigo me convencer de que esse é só teu jeito. De que tu és assim com aquele tipo de pessoa, que eu queria ser pra ti. Me dói, mas eu sei que quando deixar de ser madrugada vai passar. Também sei que não adianta falar contigo. Não é como se houvesse como salvar uma coisa que não existiu nem na minha cabeça. É só minha petulância em aceitar o óbvio. Sempre detestei o óbvio.
   Vivo me dizendo que não faz mal mentir pra mim se for só pra conseguir dormir, contanto que eu lembre da mentira depois. O problema é que a madrugada me faz sempre querer adiar esse depois. Tem coisas que eu queria falar, mesmo que não devesse. Parece errado, todo esse sentimento estranho que eu não faço ideia de como veio parar aqui. Ele me faz pensar como louca que isso tudo daria uma ótima história pra quando ficássemos juntos.
   Mas até aí tudo bem, porque, por mais sobrenatural que seja, essa tal de madrugada, ela passa rápido.

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