Parecia que ela estava esperando os cachos desmancharem. Olhando pra baixo, pro nada e para tudo. Era a única daquela dezena de pessoas que contrastava, sem razão, com as pequenas luzes que enfeitavam o terraço. Ouso dizer até que as complementava.
Foi um misto de curiosidade e pena, por vê-la daquele jeito, que me fez falar com ela. E meu Deus, como era frágil. Num tom doce indecifrável, a cada palavra sentia que estava sendo rasgado de dentro pra fora.
Ela levantou a cabeça com um sorriso de mentirosa, que me parecia tão sincero que quis abraça-la. Pergunto-me se ela achou que fui um dos que acreditei que o que ela queria não era gritar até desmaiar.
Disse pra mim que parecia que estava com uma forca em volta do pescoço, e que há exatamente um ano tentava cortar a mesma corda. Mencionou tudo que tinha feito nesse ano. Tudo que deu errado. Tudo que mudou e o que ainda faltava. Tudo, sorrindo.
Foram horas trocando besteiras, até que ela se levantou rapidamente. Tão rápido quanto meu cérebro foi capaz de processar, a segurei pela mão, jurando que seria suficiente.
Com o reflexo de um mamão, pedi pra leva-la em casa. Até hoje não sei se aquilo foi só um fora muito bem poetizado, ou mais uma prova daquela sinceridade que fazia doer os olhos de qualquer político. Disse-me com as exatas palavras: “Adoraria! Mas ainda não posso dizer que moro em algum lugar."
Tudo, sorrindo.
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